quarta-feira, 8 de junho de 2011

Enxada

Os franceses tem uma expressão engraçada pra qualificar o "mundinho" de uma pessoa que nunca conheceu a vida pra fora: "poisson carré" (peixe quadrado). É uma clara referência aos peixes congelados prontos pra assar/fritar, e é incrivel como tem gente que nunca viu um animal de verdade. Não é a toa que os jornais fazem questão de mostrar "as crianças encostando nas vacas e nas galinhas" durante o salão da agricultura de Paris, a maior "expofeira" da França.

Mas a vida de colono não se resume só aos bichos. Alias, acho que no imaginário popular o colono está e estará sempre associado a outra coisa: a enxada. Seja uma enxada encostada na arvore enquanto o Radicci descansa, seja a enxada no ombro do agricultor que está voltando da lavoura.



Quando era guri, era uma "honra" ter uma enxada, pra mostrar que podia trabalhar como gente grande. Não tinha força de levantar uma enxada normal, mas sempre tinha uma enxadinha menor que dava pra usar. Podia ser uma enxadinha feita pra criança, ou então aquelas que pareciam uma colher de pedreiro de um lado (enxada) e restelo de outro...


Era um orgulho só mostrar que sabia capinar! Na maior parte do tempo ficava esburacando o patio, pro desespero dos adultos, mas às vezes tinha um trabalho sério: minha vó mandava arrancar as guanxumas da horta! E bota trabalho serio nisso, tinha que escavar bem pra arrancar todas as raizes, senão brotava tudo de novo.

Guri com enxada na mão, sempre fui um perigo! A gente fazia o movimento mais amplo possivel pra pegar "força", então cuidado quem estiver por perto! Uma das anedotas foi a vez onde arranquei a peruca da minha vó com um movimento de enxada... Deve ter sido algum movimento shaolin, so pode!

Pena que a gente cresce e chega naquela fase da vida onde "fica nojento", e o orgulho de pegar na enxada foi esquecido. Hoje em dia, morando em apartamento, bem que gostaria de ter onde capinar, num espaço maior do que os potes de flores e temperinho verde...

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