sábado, 21 de maio de 2011

Açucar Mascavo

Ok, talvez o açucar mascavo não seja uma exclusividade dos nossos gringos, mas hoje em dia não creio que tenha muita gente além dos gringos que continue fazendo. Ano passado tive a oportunidade de comprar uns quilos de uma vizinha la no Sitio dos Melos, mas receio que cada vez menos poderemos obter esse produto tão puro e saudável (vindo de uma fonte confiável).



Pra dizer a verdade, o açucar mascavo é, junto com o chimarrão, um dos prazeres que faço questão de trazer do sul. Quase não uso açucar (nem no café, nem no chá, e praticamente não fazemos doces), mas basta uma colherinha de açucar mascavo de tempos em tempos pra reviver a infância.

Os franceses conhecem sobretudo o açucar de beterraba, e o pouco contato com o açucar de cana (chamado "cassonade") é um açucar quase refinado, levemente marrom... Tem até o cheiro mas não tem o gosto do verdadeiro mascavo. Açucar mascavo bom mesmo é aquele dos nossos nonos, aquele cheio de grumelos e com gosto inigualável.

Quando era pequeno, so podia acompanhar de longe quando faziam açucar mascavo na minha vó, porque era perigoso demais deixar um guri perto do tacho borbulhante (e queimadura de açucar doi pra valer). Mas isso não significava ficar de fora da festa, pois nesses dias que começavam cedo a nossa dieta passava da cana chupada de manhã, da garapa (que eu não gostava muito) e dos inesqueciveis "puxa-puxa", pedaços de palha de milho onde se deixava esfriar o açucar em ponto de fio. Também tinham os pés-de-moleque e as rapaduras, mas so dava bola pra elas depois que ja não conseguia mais comer puxa-puxa.

Fico imaginando como foi duro pros nossos antenati que chegaram no Brasil... Eles não conheciam o açucar de cana (como bons europeus, no maximo era açucar de beterraba ou mel). Mas enfiados no meio da serra, não tinha como comprar açucar facilmente (e devia ser caro). Aprendendo com os portugueses e africanos, transformaram o açucar mascavo em um produto próprio, quase tão tipico quanto o salame, o codeguin (morcela) e os grostoli (cueca-virada), dos quais falarei outro dia.

Abaixo, algumas fotos tiradas no velho casarão onde foi feito o açucar que estou comendo hoje. Não cheguei no dia do trabalho mas so de olhar a gente imagina a agitação em torno do tacho, mexendo pra não grudar, atiçando o fogo... So espero poder aproveitar ainda por alguns anos essa tradição dos nossos gringos, antes que a facilidade do produto industrial tome conta definitivamente (e açucar comprado em loja de produtos bio não é a mesma coisa).






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